Morreu hoje,
às 8 horas, o cantor Wando, de 66 anos, que estava internado no Biocor
Instituto, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas
Gerais desde o dia 27. Segundo o hospital, ele sofreu uma parada cardíaca.
Wando vinha apresentando melhora em seu quadro de saúde e chegou a
divulgar um bilhete, apresentado no Fantástico, da TV Globo, no último domingo,
onde estava escrito "Eu estou na oficina de Deus arrumando a turbina. Me
aguardem!".
Wando foi internado com dores no peito e quando se preparava para
um cateterismo, o quadro se agravou, evoluindo para um enfarte, obrigando os
médicos a submeterem o cantor a uma angioplastia de urgência para desobstruir
as artérias do coração. Desde então, o cantor vinha sendo mantido sedado no Centro
de Tratamento Intensivo (CTI), respirando com auxílio de aparelhos.
Carreira:
Como letrista, Wando ficou célebre
por composições de teor romântico e erótico. Sua marca registrada era a
calcinha. Em depoimento disponível em seu site oficial, o próprio
cantor conta como tudo teria começado, explicando que a peça foi uma
espécie de fonte de inspiração para seu álbum “Tenda dos prazeres”
(1990). “Uma calcinha de cabeça pra baixo, ela vira uma tenda, não é?
Aí, coloquei uma calcinha na capa do disco, e essa coisa fez tanto
sucesso, que até hoje eu não consigo tirar do show. Eu distribuo
calcinhas e recebo, tenho uma coleção muito grande, de todas as formas,
jeito, cores e tamanhos.”
No mesmo depoimento, Wando aborda outras estratégias que adotou ao
longo da carreira: “Teve uma época [em] que eu mordia a maçã no palco, e
continuo mordendo ainda, porque conta a história de como é que começou o
pecado, não é?”. As alusões ao sexo prosseguiram, com distribuição de
convites de motel – sempre durante apresentações ao vivo. “Teve uma
época no Canecão [casa de shows do Rio de Janeiro, atualmente inativa]
que a gente botou uma banheira no palco, eu botava uma mulher nua no
palco. Eu sempre gostei desses negócios.”
Vanderley Alves dos Reis nasceu em 2 de outubro de 1945 – “num arraial chamado Bom Jardim [em Minas Gerais]”.
Lá, ficava a fazenda que teria pertencido aos seus avós. Seu registro,
no entanto, foi feito na cidade de Cajuri, no mesmo estado. Ele conta
que, ainda criança, mudou-se para Juiz de Fora (MG), onde concluiu o
antigo primário. Mais tarde, ele foi para Volta Redonda (RJ), “onde eu
entreguei leite nas casas, vendi jornal, virei feirante, dirigi caminhão
na estrada”. Na mesma época, passou a se interessar por música, tendo
inicialmente se dedicado ao estudo do “violão clássico”.
“E aí eu descobri que não era legal o violão clássico para o que eu
queria: eu queria tocar pras moças, né?”, afirma. “O violão clássico é
bacana, mas elas [as mulheres], acho que ficavam um pouquinho
entediadas. Descobri que eu tinha que fazer umas canções de amor.
Comecei a sentir que era legal, que a música socialmente com a parte
feminina dava muito certo, me apaixonei por aquele negócio.”
Após deixar a profissão de feirante, Wando mudou-se para Congonhas
(MG). Lá, começou a “viver de música”, como integrante de um conjunto
chamado “Escaravelhos” – “escaravelho pra quem não sabe, é um besouro, a
mesma coisa que Beatles”. Cinco anos mais tarde, decidiu tentar a sorte
no “eixo Rio de Janeiro – São Paulo”. Frustrada a passagem pelo Rio,
chegou a São Paulo, onde teve gravado seu primeiro sucesso, na voz de
Jair Rodrigues. A composição, “O importante é ser fevereiro”, teria sido
“uma música muito tocada no carnaval de 1974”, lembrou-se Wando.
A canção integra o disco de estreia de Wando, “Gloria a Deus e samba na
Terra” (1973). De acordo com ele, aquele trabalho seguia a linha “do
formato do Caetano Veloso, do Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil”. A
guinada em direção ao repertório romântico foi simbolizada pela música
“Moça”, do disco seguinte, “Wando” (1975). A justificativa: “Cantando na
noite em São Paulo, eu descobri que a parte feminina adorava quando eu
tocava música romântica.”
Ao longo da década seguinte, Wando consolidaria a reputação, como ele
mesmo lista, de “obsceno, o cara da maçã, o cara da calcinha”. É desse
período, quando o cantor já vivia no Rio de Janeiro, sua música mais
conhecida, “Fogo e paixão”, do disco “O mundo romântico de Wando”
(1988), o 14º da carreira, segundo a contagem do site oficial. Ele foi
precedido por trabalhos como “Gosto de maçã” (1978), “Gazela” (1979),
“Fantasia noturna” (1982), “Vulgar e comum é não morrer de amor” (1985) e
“Ui – Wando paixão” (1986). Na sequência, viriam, dentre outros,
“Obsceno” (1988), “Depois da cama” (1992) e “O ponto G da história”
(1996).
Entre álbuns de estúdio e registros ao vivo, o site de Wando
contabiliza 28 trabalhos, ao todo. O cantor acreditava ter vendido dez
milhões de discos – “até na época que a gente contava”. “Depois [houve] a
história da pirataria, que acabou me fazendo muito mais popular. Eu
acho que a pirataria é ruim para um lado, para o lado compositor, mas
para o lado intérprete, o cara que faz show, eu acho que ela favoreceu
muito.”
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